sábado, 14 de diciembre de 2013

A comutação entre o diálogo e o desenho.

A comutação entre o diálogo e o desenho.
Arq. Jorge Villavisencio.

No ano de 2010 a jovem filosofa e artista plástica Marcia Tiburi e o poeta e artista plástico Fernando Chuí apresentam na cidade de São Paulo seu livro “Diálogos e Desenho”. Na nossa maneira de ver esta obra recente tem conotações diretas com a arte da arquitetura. A ideia é de ver seus aspectos relacionais de seus diálogos e poder explicar nosso ponto de vista com alguns de nossos pensamentos com relação ao diálogo que foi produzido pelos citados artistas plásticos.

TIBURI, Marcia; CHUÍ, Fernando; Diálogos e Desenho, Editora Senac, São Paulo, 2010.

Sem duvida a arquitetura está dentro das artes e a cultura mais também faz parte das ciências sociais aplicadas. Mais dentro da forma de comunicação e representação da arquitetura se da em seu maior parte nos seus desenhos que é o projeto arquitetônico, em que sabemos os arquitetos quando projetamos temos determinada “intenção” na apropriação e organização do espaço a ser construído. Temos que ser claros ao explicar isto, porque a finalidade da arquitetura é de realizar/construir espaços, já seja estes em diversas tipologias de edifícios ou também na construção de espaços urbanos dentro de suas cidades ou fora delas.

Como primeira medida para realizar um determinado projeto de arquitetura ou de urbanismo, temos que ter os primeiros diálogos com os proprietários ou com os gestores ou encarregados na realização de determinada obra, desta forma os arquitetos montamos o programa que serve para os primeiros diálogos. Esta parte é fundamental para a execução do projeto porque definimos nossos parâmetros que nos acompanharam ao longo do tempo. Mais a evolução do programa se da no próprio diálogo.
O gênesis do diálogo se da no intercambio de opiniões do como poderia ser um bom projeto, sem duvida o peso forte na realização do desenho (representação) se da acima das “condicionantes” que encontramos no lugar/espaço onde será construída determinada obra.

No caso do citado livro diz que “O próprio diálogo foi se desenhando a partir de palavras que operam na intenção do traço...” (p. 8) então nossa explicação de acima tem um fundamento a igual do livro tanto assim que forem produzidos diversos desenhos ao longo livro com diversas trocas de ideias que se presentam no diálogo.

O livro provoca certas questões filosóficas, mais de forma simples em ele se torna amena sua leitura, e claro tomamos esto como referente nos diálogos produzidos pelos autores. Muita das palavras ditas tem conceitos que não são genéricos, porque atrais deles tem fundamento teórico e claro do próprio conhecimento adquirido por Tiburi e Chuí. Seria quase impossível falar/explicar todo que foi dito no livro, mais alguns pontos poderei fazer certas divagações sobre suas expressões.

Penso que foi sintetizado por parte deles desta forma: “Por onde começar? Pelo mais elementar. Ora, conjuguemos o verbo: se eu desenho e tu desenhas, nós desenhamos, ao mesmo tempo outros – ou todos? – desenham”. (Tiburi, p. 11). Esta provocação feita pela autora tem uma forte iniciativa, porque leva ao leitor a “participar”, consideramos que para que der certo determinado desenho ou projeto a participação é fundamental desta forma o sucesso do mesmo torna-se mais fácil, agradável e sobre tudo comprometido com o futuro de sua obra.

Também Tiburí provoca ao dizer “... as novas tecnologias me deixam em duvida: o que é desenhar, quando programas de computador podem desenhar por você?”. Aqui temos dois pontos: primeiro temos que ver que o desenho em computador e só uma ferramenta, ele não desenha sozinha sem a ideia o pensamento do autor. Mais não podemos banalizar ao computador, porque hoje em dia a tecnologia de informação e comunicação faz parte da vida contemporânea simplesmente estar à margem desta importante “ferramenta” é estar fora das novas formas de trabalhar, por tanto o processo se torna obsoleto ou muito demorado. Mais segundo nosso ponto de vista o computador mais pode servir para a finalização de uma determinada ideia – que já concebido com anterioridade dentro do nosso próprio conceito.

O segundo ponto o desenho nasce em qualquer lugar pode ser num papel qualquer, num momento qualquer, de uma ideia qualquer, estes conceitos que na maioria dos casos nos acompanham toda a vida. Ate na psicologia é utilizado o desenho simples para o analise da personalidade da pessoa, então e a forma mais pura de expressão. Tanto assim que nos primórdios da vida dos seres humanos se deu no próprio desenho (a escrita não existia) e o desenho retratavam suas formas simples da vida. Como viviam, como se sustentavam, que basicamente era a relação com a natureza divina – que é o que de lhes oferecia e retratavam seu modus vivendi. Que em síntese: “Uma configuração cósmica ao alcance da mão. Nascimento da alma a partir de um gesto. Como se a maneira que cada pessoa tem para se expressar pela ação de seu corpo pudesse ser concretizada no espaço-tempo de uma folha de papel; ou, da areia...” (Chuí, p. 17).

Neste emocionante diálogo diz que: “O resgate do olhar ao desenho é a salvação do próprio gesto com a vida” (Tiburi, p. 34). Pensamos que neste ponto de vista provoca a realização de seu próprio ser. No caso da arquitetura é também o gesto do projetista com sua obra, mais também é a realização do quem encomendou o projeto, traduzido pelas necessidades e claro da “experiência” vivida pelo professional na arte de projetar, parafraseando ao Neufert. “...o desenho como prazer que liberta” (Tiburi, p. 43).

Desenho a quatro mãos de Marcia Tiburi e Fernando Chuí.
Fonte: Livro “Diálogos e Desenho” – Tiburi e Chuí; 2010:155.

Além que no desenho de acima guarda um espirito da própria essência do ser humano como figura fundamental de expressão, com muito movimento e numa escala e textura de proporções esmeradas. Mais também queremos provocar ao dizer que quando o desenho e feito por duas o mais (mãos) pessoas é pensamento contemporâneo. Com isto queremos explicar, hoje os escritórios de arquitetura é comum trabalhar em equipe e inclusive em forma multidisciplinar (outras especialidades como geógrafos, sociólogos, artistas plásticos, psicólogos, economistas, etc.) se torna comum trabalhar desta forma, mais não e fácil, cada um tem papel e um ponto de vista que em algum momento ate complica a vida do arquiteto-projetista, mais sem duvida o resultado é bem melhor. Na época da arquitetura moderna em especial do século XIX e XX, os trabalhos produzidos nos escritórios de arquitetura eram feitos (na sua maioria) pelo próprio arquiteto, ate individualista e uma equipe de desenhistas (que maioria não tinha nem voz nem voto – uma espécie de patriarcado projetual). Mais bem os escritórios que faziam trabalhos de projetos urbanos se acostumava ser multidisciplinar. Mais eram equipes reduzidas, salvo raras exceções. Hoje e dia e diferente sabemos dialogar com outras especialidades disciplinares.

Por ultimo gostaria de fazer uma reflexão sobre isto: “É o desenvolvimento das linhas, seu devir. Seu acontecimento interno, o que importa na existência final da obra em o processo vem a ser guardado. As linhas contam sua historia de um gesto, de uma potencia, de um cosmos que se busca a si mesmo na impotência de dizer o mundo que o cerca e, mesmo assim, sorve e vive esta tentativa.” (Tiburi, p. 155).

A filosofa e artista plástica Marcia Tiburi em visita na cidade de Goiânia em Maio de 2013, com o arquiteto Jorge Villavisencio no Centro Cultural Oscar Niemeyer.

Na arte da arquitetura as linhas vêm de diversos pensamentos obtidos nas pesquisas, das teorias e da própria experiência adquirida pelo arquiteto. Mais o “gesto” a que faz referencia Tiburi, está no estado criativo que conduz ate de forma anímica em que se encontra, sejamos corretos em dizer o artista arquiteto, assim como nas outras artes tem um momento de inspiração, pode ser pelo lado cósmico conforme se indica, mais também pelo momento de “lucides” em criação espacial que como sabemos não e em todo momento. Na historia da arquitetura através do espaço-tempo tem demostrado a evolução de suas linhas que se plasma nos seus projetos arquitetônicos, e diz ao mundo essa é nossa arte, e esse o seu momento, mais o que interessa é cumprir com as demandas sociais ou de quem solicita nossa arte, mais sem duvida como o explicava o mestre Oscar Niemeyer – “a arquitetura tem que emocionar”, emoção está no dialeto de como podemos fazer uma boa arquitetura, que nos faça mais feliz, mais condescendente com nossa realidade, mais humano, mais fraterno com os outros, e menos individualista como era no passado. Ser contemporâneo é busca de um novo projeto, por isso demanda aprimoramento e conhecimento de diversas áreas disciplinares, penso que neste inicio do século XXI temos tido avances, talvez poucos, mais esta nova proposta com a preocupação com o meio ambiente é um ponto muito forte a seguir, sei que podemos fazer mais, muito mais.

Goiânia, 14 de Dezembro de 2013.
Arq. Jorge Villavisencio.


Bibliografia

TIBURI, Marcia; CHUÍ, Fernando; Diálogos e Desenho, Editora Senac, São Paulo, 2010.

NIEMEYER, Oscar; A forma na arquitetura, Avenir Editora, Rio de Janeiro, 1978.

GLUSBERG, Jorge; Para uma crítica da arquitetura, Projeto, São Paulo, 1986.

MONTANER, Josep Maria; A modernidade superada, Editora Gustavo Gili, São Paulo, 2013.

HOGARTH, William; Análisis de la Belleza, Titulo Orginal: Analysis of Beauty {1753}, Editora Visor Libros S.L., Madrid, 1997.