Jorge Villavisencio
O presente texto trata de oferecer algumas estratégias que provocam percepções no espaço da arquitetura contemporânea. Nós, que tentamos entender como é a motivação projetual da arquitetura, traçamos alguns eixos que nos permitem visualizar de forma mais clara as estratégias nas propostas projetuais de hoje.
“As variadas formas de um edifício dentro da paisagem urbana têm como certa linguagem visual que neste proporciona uma – palavra – diferente de cada tipo de estrutura.”
(Arnheim, 2001:162)
Entendemos que essas formas variadas obedecem à tipologia da edificação proposta, além, é claro, do entorno urbano onde ela será inserida. Pensamos que as cidades absorvem seus edifícios com determinada naturalidade, mais ainda se eles provocam debate espacial, já que são percebidos não só pelos arquitetos e urbanistas, mas também pela população comum, que é a grande maioria.
Sem dúvida, a arquitetura e seus edifícios são criados com determinada “intenção” palavra repetida tantas vezes pelo Dr. Lucio Costa, entre outros da época da arquitetura moderna. Mas esta intenção obedece as várias “condicionantes” devem ser analisadas e depois diagnosticadas, que servirão posteriormente para ter as diretrizes projetuais para a realização de determinado projeto.
“A arquitetura está além das coisas utilitárias.
A arquitetura é assunto de plástica.
Espírito de ordem, unidade e intenção.
A arquitetura deve ter o espírito de seu tempo”.
(Le Corbusier, XXXI:2009)
Para Mario Biselli, o momento projetual tem que existir com certa “inquietação”, como processo criativo da arquitetura, que obedece a certas formatações, metodologias que poderão dar início a uma “inovação” que é o espírito dos tempos. Esta antecipação das tendências é a revisão de paradigmas que acontecem no espaço e no tempo.
Mas devemos deixar claro que o processo projetual não é um acontecimento de fórmulas precisas, ele pode e deve seguir certas metodologias que estão inseridas dentro da análise e dos diagnósticos, vistos e revistos dentro das condicionantes que fazem parte das pesquisas prévias ao projeto. Condicionantes como: pré-dimensionamento, legislação, isolação, ventos, topografia e outros que são as partes da análise. Sem essa análise, e sem diagnostico é pouco provável que sejam atendidas as exigências de um determinado projeto com qualidade esperada.
“A forma – Percebemos com claridade cada edifício, porque cada um tem sua própria forma. A forma é uma figura ou determinação exterior de algo. Como Aristóteles planteia que é aquilo que determina que seja algo o que é”.
(CLAUX, 2005: 44)
Uma boa alternativa seria decidir qual são suas vantagens e suas desvantagens, claro dentro de uma gama de possibilidades. Sem dúvida, ao fazer essas alternativas surgem novas ideias, de como se poderia fazer o objeto num determinado lugar, qual seria a relação espacial entre o sujeito e o objeto, neste caso o projeto arquitetônico de uma tipologia para determinada edificação.
F.001 – Museu das Artes do Século XXI, em Roma da arquiteta Zaha Hadid – 1998-2009.
“As formas externas do prédio são escultóricas e dinâmicas, e podem ser lidas como se une uma parede estrutural estivesse equilibrando um enorme volume em balanço.”
Fonte: Fundamentos da Arquitetura, 2014.
“... as ideias contemporâneas em arquitetura se referem àquelas que surgiram durante o século XX e XXI. A arquitetura é bastante influenciada pelo Zeitgeist (o espírito da época), mas quando comparada a outras manifestações culturais, como a arte, desenho de produtos ou tecnologia, suas relações são muito lentas. Não é raro, edificações ou monumentos públicos grandes demoram uma década ou mais para serem concebidos, desenvolvidos e construídos.”
(Farrely, 2014:136)
Dentro de algumas destas estratégias projetuais analisaremos estes sete pontos: lugar, programa, circulação, estrutura, matéria, espaço e volume. Mas, sem dúvida, cada um destes pontos tem uma conceptualização vivida pela própria semântica da palavra e de seu próprio significado, assim terá uma relação mais firme para a tomada de decisões para que se produza o “partido arquitetônico”. Consideramos que não é uma tarefa fácil, mas pensamos que depois de analisados os pontos com imagens de projetos que ilustrarão a percepção da cada significado, desta forma cada leitor poderá ter seu próprio diagnóstico.
O “lugar” onde estará inserido o projeto. O lugar, como espaço além das dimensiones físicas necessárias, faz parte das recordações e tem mudanças com o passar do tempo. Nestes espaços acontecem atividades, eventos e ocasiões. Um lugar tem um senso de identidade e de memória.
F.002 – Concurso Grande Museu do Egito, Héctor Vigliecca, 2002-2003.
Fonte: vigliecca.com.br
O “programa”, uma vez que conhecemos o lugar onde será construída a obra, listamos e diagramamos espaços/ambientes que é o pré-dimensionamento espacial, estes são os requerimentos dos futuros usuários, desta forma saberemos das suas atividades que serão realizadas na edificação, assim poderemos estabelecer espaços e subespaços que precisam de certas caraterísticas.
F.003 – Concurso Instituto Moreira Sales, Andrade Morettin, 2011.
“Estratégias programáticas”
Fonte: andrademorettin.com.br/projetos/instituto-moreira-salles
F.004 – Concurso Instituto Moreira Sales, Andrade Morettin, 2011.
“maquete”
Fonte: andrademorettin.com.br/projetos/instituto-moreira-salles
F.005 – Concurso Instituto Moreira Sales, Andrade Morettin, 2011.
Fonte: andrademorettin.com.br/projetos/instituto-moreira-salles
A “circulação” ou percurso é o caminho até a porta de entrada, que será a primeira impressão que o visitante terá da arquitetura. Depois, a maneira como o percurso continua dentro dos espaços funcionais dentro da edificação, as relações entre o exterior e o interior e os diferentes níveis do piso também contribuirão para a arquitetura da edificação. Estas relações dos espaços onde funcionam as diversas atividades devem satisfazer aos usuários.
F.006 – Embaixada da Holanda em Berlim, Rem Koolhaas / OMA, 2003.
“Maquete”
Fonte: elmaxilab.com
F.007 – Embaixada da Holanda em Berlim, Rem Koolhaas / OMA, 2003.
Fonte: elmaxilab.com
A “estrutura” é um conjunto de elementos que suportam e transmitem as cargas desde o subsolo. Um sistema estrutural é um conjunto de elementos resistentes que são capazes de manter a “forma” de uma edificação ao longo do tempo, sob a ação de cargas nos quais serão submetidos.
O arquiteto estrutura os espaços para que habitem os seres humanos, e estrutura também os diferentes elementos que delimitam espaços.
F.008 – Swiss Re Next, Suíça, Christian Kerez, 2008.
“Maquete”
Fonte: kerez.ch/
F.009 – Escola Leutschenbach, Christian Kerez, Suíça, 2002-2009.
Fonte: kerez.ch/
A “matéria” são os materiais empregados dentro de um sistema estrutural que respondem as forças, inerentes ao próprio material (que dependem de sua resistência, seu comportamento, suas propriedades e sua qualidade) como as forças externas em que se apresentam segundo a posição estrutural, a translação de forças que ele recebe, suportam seu apoio, o clima, a umidade, etc.
F.010 – Museu Kolumba, Peter Zumthor, Colônia, Alemanha, 2005-2007.
Fonte: archdaily
F.011 – Museu Kolumba, Peter Zumthor, Colônia, Alemanha, 2005-2007.
“matéria”
Fonte: archdaily
O “volume” é um conjunto de medidas geométricas que sustentam a “forma” da edificação. Há uma importante ligação entre a arquitetura e a geometria. É possível expressar conceitos de arquitetura usando termos simples que caracterizam a forma ou volume da edificação. Algumas formas são dinâmicas, escultóricas e fortemente influenciadas pela aparência externa do prédio.
Percebemos as formas porque existem contrastes, só percebemos as formas quando temos contraste no campo visual. A ideia de figura-fundo é a estrutura básica das nossas percepções.
F.012 – Torre Siamesa, Alejandro Aravena, Santiago, 2003-2005.
Fonte: alejandroaravena
F.013 – Torre Siamesa, Alejandro Aravena, Santiago, 2003-2005.
“diálogo da forma exterior e interior”
Fonte: alejandroaravena
O importante da arquitetura é reconhecer o “espaço”. A arquitetura é um produto dos seres humanos que consta de espaços dentro das quais as pessoas desenvolvem suas atividades. Estes espaços cumprem determinadas funções e neles são delimitados por diferentes elementos que se estruturam entre si. Criar e estruturar a forma de espaços arquitetônicos para que sejam úteis e agradáveis, poderíamos definir, que é a dialética entre a forma, a função e a estrutura de espaços arquitetônicos. Para Bruno Zevi – o espaço e a essência da arquitetura.
F.014 – Museu Iberê Camargo, Alvaro Siza, Porto Alegre, 1998-2008.
“o espaço exterior”
Fonte: revistas unisinos
F.015 – Museu Iberê Camargo, Alvaro Siza, Porto Alegre, 1998-2008.
“o espaço interior”
Fonte: revistas unisinos
Pensamos que neste breve texto analisamos estes pontos que consideramos importantes da arquitetura contemporânea. Acreditamos que servirão para fazer seus diagnósticos das relações com o espaço a ser projetado. Não existe uma fórmula precisa para fazer arquitetura, mais bem existem métodos de análise que foram descritos ao longo do texto. Para finalizar, estamos de acordo com o dito por Zevi “Mais o espaço em si – a essência da arquitetura – transcende os limites da quarta dimensão”.
Goiânia, 15 de março de 2015
Arq. MSc. Jorge Villavisencio
Bibliografia
ARNHEIM, Rudolf; La forma visual de la arquitectura, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2001.
MONTANER, Josep Maria; A modernidade superada: Ensaios sobre arquitetura contemporânea, Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2013.
CLAUX, Inés; La arquitectura y el proceso de diseño, Editado Universidad de San Martin de Porres, Lima, 2005.
FARRELY, Lorraine; Fundamentos de Arquitetura, [Fundamentals of Arcuiteture-2° edition trad. Alexandre Salvaterra], Editora Bookman, Porto Alegre, 2014.
ZEVI, Bruno; Saber ver a arquitetura, Editora Martins Fontes, São Paulo, 2009.
TIETZ, Jürgen; História da arquitetura contemporânea, Editora H.F. Ullmann, Colônia, 2008.
UNWIN, Simon; Exercícios de arquitetura, Editora Bookman, Porto Alegre, 2013.
TINEM, Nelci; O alvo do olhar estrangeiro: O Brasil na historiografia da arquitetura moderna, Editora Manufatura, João Pessoa, 2002.
LE CORBUSIER; Por uma arquitetura [Vers une architeture-1923], Editora Perspectiva, São Paulo, 2009.
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