Arq. Jorge Villavisencio
A ideia deste texto é de vislumbrar alguns acontecimentos históricos sobre o nascimento do hospital com caraterísticas modernas. Si bem e certo que o edifício-hospital não pode ser considerado como uma edificação comum, porque tem como principio os cuidados da saúde de ser humano, por conseguinte o edifício-hospital e a medicina têm como objetivo principal preservar a espécie humana. Tanto assim que em alguns casos dentro das teorias do hospital – são considerados “autenticas cidades para os cuidados da saúde” com vida e experiência que vem adquirindo na linha do tempo.
Para os interessados no “saber”, e de querer entender o que sucede nos hospitais modernos, penso que neste texto pode ser de utilidade em especial para os arquitetos, médicos, e pessoas que tentamos ter cognição do processo da modernidade nos hospitais.
Temos tomado como referencia algumas citações do importante pensador e filosofo francês Michel Foucault (1926-1984) no seu livro a “Microfísica do Poder” na versão em português atualizada de 2012. No capitulo 6 – O nascimento do hospital (pág. 170-189) de Foucault faz importantes revelações sobre os levantamentos históricos e reflexões sobre a vida do edifício-hospital, acima deste analise faremos reflexões dos fatos, que a nossa maneira de ver deixam importantes recados para a arquitetura nos espaços criados no hospital, assim como os comportamentos na evolução da medicina. O capitulo esta baseada na Conferencia realizada no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado de Rio de Janeiro – UERJ em 1974, com tradução de Roberto Machado.
Na primeira revelação de Foucault diz: “O hospital como instrumento terapêutico é uma invenção relativamente nova, que data no final do século XVIII.” (Foucault, 2012:171), penso que no primer momento os fatos históricos nos indicam que no tempo na década social e politica da Revolução Francesa, que tem como nascimento o pensamento “Iluminista” com ideais modernos que cambiam nossa maneira de ver a vida.
Segundo que a partir dessa época os espaços que se criam dentro dos hospitais modernos já não são os mesmos, o hospital termina sendo “espaços terapêuticos para os cuidados da saúde”, como exemplo contemporâneo de finais do século XX e inícios do século XXI podemos citar os trabalhos feitos do arquiteto João Figueiras Lima – Lelé nos edifícios hospitais da Rede Sarah Kubitschek. Então os espaços programados e projetados demostram que intervém com seus efeitos é que atuam diretamente nos “cuidados da saúde”.
Terceiro a programação destes hospitais com caraterísticas modernas penso que não só influi na cura dos pacientes, mais também no cotidiano de todo o pessoal que labora dentre destes espaços hospitalarios, a das inter-relações que se produzem nas unidades médicas, que são susceptíveis a uma melhora na qualidade de atendimento de pacientes – qualidade espacial é competência da vida profissional dos arquitetos.
Foucault se se baseia nos fatos históricos de analise feitos pelo medico francês Jaques Tenon, “... 1775-1780 e do francês Tenon, a pedido da Academia de Ciências, no momento em que se colocava o problema da reconstrução do Hotel-Dieu de Paris.” Como sabemos o grupo de hospitais Hotel-Dieu na França sempre forem tema de experiências por parte da medicina desde seu aparecimento no inicio do século XII. Tenon nas suas longas pesquisas (até certo ponto como inquéritos realizados nos hospitais) onde realiza um programa de reforma e reconstrução de hospitais.
A observação dos espaços nos hospitais existentes se torna fundamentais porque “São os hospitais existentes que devem pronunciar sobre os méritos ou defeitos do novo hospital” (Foucault, 2012:172). Sobre isto gostaria de esclarecer que a arquitetura e seus espaços funcionais que são criados nos hospitais têm conotações com possíveis soluções nos problemas da infeção/contaminação intrahospitaria, com caraterísticas exógenas, que como sabemos são problemas que devem ser erradicados ou ao menos minimizados.
No caso dos problemas de saúde interna dos pacientes são caraterísticas endógenas (pela mesma flora do paciente) e cabe a solução aos médicos e dos processos da medicina.
A apreciação que faz Foucault ao dizer “O hospital deixa de ser uma simples figura arquitetônica” é pertinente já que na antiguidade o hospital era utilizado como deposito de pessoas moribundas ou de caridade. Com o nascimento de hospital moderno o edifício se torna um importante tema de pesquisas tectônicas, assim sua observância dentro da vida urbana das cidades.
Nas pesquisas realizadas por Tenon e Howard entre os séculos XVII e XVIII sobre os problemas dos “fenômenos patológicos e espaciais” dão novas cifras importantes nas inter-relações funcionais e das áreas (m2.) que são necessárias para cada ambiente. “A correlação espacial ferida-febre é nociva para os feridos” (Foucault, 2012:173). As observações feitas por Tenon que estuda o percurso, o deslocamento, o movimento no interior do hospital, particularmente as trajetórias espaciais.
Sem lugar a duvidas neste novo olhar as estratégias modernas produz efeitos patológicos que devem ser corregidos. O conceito moderno da “maquina de curar”, foi também posteriormente dito especificamente para toda a arquitetura, isto foi evidenciado nos inicios do século XX por Le Corbusier em suas palestras nos CIAM – sobre a maquina de morar. Aparece inicialmente entre os anos de 1920 e 1921 nos doze artigos “l´Esprit Noveau”.
Como se sabe, nesta luta entre a natureza e a doença o medico observa os sinais – uma espécie de prever a evolução do paciente, a ideia era de favorecer na medida do possível a vitória da saúde e da natureza sobre a doença. Mais em alguns casos não se torna favorável à questão espacial (propostas da arquitetura em organizar espaços) porque se produz “contaminação” nos ambientes do hospital, claro de caráter exógeno. A dificuldade está para que não se produza – a infeção intrahospitalar, é uma luta que vem desde a época de Louis Pasteur no século XVIII. Hoje os estudos nos fluxos de um hospital se tornam mais rigoroso, as inter-relações dos ambientes se tornam matéria de analise, as modernas tecnologias (barreiras) que são aplicados nos hospitais são necessárias. “Não se procuro primeiramente medicalizar o hospital, mais purifica-lo dos efeitos nocivos, da desordem que ele acarretava.” (Foucault, 2012:177).
Mais Foucault esclarece que a desordem não só e espacial, mais também econômico-social. Desta se espalha a doença para toda a cidade. Bom, aqui temos dos assuntos, o primeiro que si a desordem econômico se torna um problema social porque atinge a todos, como exemplo de hoje se torna quase indispensável ter plano de saúde privado, porque o publico se torna muito a desejar. É um problema social porque nem todas as pessoas tem capacidade de arcar de seu próprio bolso – com um diminuto salario mínimo – a saúde privada, além do que os Governos de turno descontam dos salários de todos para que funcione o SUS. Que na nossa maneira de ver “é um problema de gestão”, digamos uma gestão mais Professional e menos politizada como geralmente ocorrem nos países. O Segundo ponto é que nos estudos das relações interespaciais dos ambientes, setores e unidades medicas que ocorrem dentro da arquitetura nos hospitais, minimizam a questão exógena de contaminação destes ambientes, mais temos que ver “... mas não pode satisfazer plenamente porque omite um fator-chave de toda concepção espacial: o parâmetro humano.” (Zevi, 2009,49), isto vem à tona com as próprias necessidades dos ser humano, o controle nos ambientes hospitalarios para que não se produza infeção esta relacionada – no combate preventivo, como explicava Jarbas Karmam – e da importância das Comissões de Controle de Infeções intra-hospitalar – CCIH., com mais autonomia, mais devemos colocar os pês na terra, porque a contaminação sempre existiu e sempre existira, o problema e minimizar, atenuar, desta forma teremos mais “avance” que é um sintoma da semiótica na modernidade.
Justamente no século XVIII se desenvolve uma arte do corpo humano. “Começa-se a observar de que maneira os gestos são feitos, qual o mais eficaz, rápido e bem ajustado.” (Foucault, 2012:181) e faz duas observações que nos parece importante, a primeira “A disciplina é, antes de tudo, a análise do espaço”, a segunda “A disciplina exerce seu controle, não sobre o resultado de uma ação, mais sobre seu desenvolvimento”. Sobre esta ultima obedece a seu analise que forem feitos nos exércitos nas batalhas de guerra – o soldado recebe um fuzil, se é obrigado a estudar a distribuição dos indivíduos e a colocá-los corretamente no lugar em que sua eficácia seja a máxima. – A observação dos indivíduos se torna fundamental, e claro a disciplina nos hospitais são necessários para poder minimizar o sofrimento das pessoas desta forma se atenua os problemas, o analise no processo ser torna prioridade na mesma observação do que sucede.
Por ultimo gostaríamos de fazer esta importante citação: “A arquitetura do hospital deve ser fator de instrumento de cura.” (Foucault, 2012:185). Sem lugar a duvidas o problema não só radica nas questões funcionais, para isso temos uma serie de dispositivos, normas, etc. que nos dão pautas para a realização de um determinado hospital. Por isso é que pensamos que o mestre Lelé foi além, não só foi solucionada a questão funcional e das inter-relações dos espaços. Lelé levou na frente o importante lado tecnológico construtivo, que como sabemos interfere na estética dos hospitais, assim o edifício-hospital cumpre com seu dever na cura dos enfermos, é também com seu papel social, por isso é necessário rever certos pensamentos que são modernos, mais prevalecem vigente no tempo.
A importância de um Hospital marca o ritmo de uma determinada cidade, região, ate dos países.
Arq. Jorge Villavisencio
Bibliografia
FOUCAULT, Michel; Microfísica do Poder, Edições Graal Ltda., São Paulo, 2012.
FOUCAULT, Michel; Vigilar y Castigar, Siglo XXI Editores – 34° Ed., México, 2008.
LE CORBUSIER; Por uma arquitetura, Perspectiva Ed., São Paulo, 2009.
ZEVI, Bruno; Saber Ver a Arquitetura, Editora Martins Fontes, São Paulo, 2009.
No hay comentarios.:
Publicar un comentario