sábado, 2 de abril de 2011

Belém: uma questão de identidade arquitetônica

Belém: uma questão de identidade arquitetônica

Ensaio: Arq. Jorge Villavisencio

Quando nos referimos na questão da “identidade arquitetônica” de certa forma está ligada a questões de “referentes culturais” de como essa cidade assume seus valores culturais históricos ancestrais, essa relação do homem com seu entorno tem esse valor agregado, a arquitetura e a cidade (urbanismo) aderem certa pertinência que se translada no espaço-tempo na sua origem em temas netamente contemporâneos, que tem dimensões coletivas e sociais. Para isso temos tomado como referencia o importante edifício da Estação das Docas (ver F.1), localizado na cidade de Belém na região norte do Brasil.

F.1 – Estação das Docas (2000) – Arquitetos: R. Lima, P. Chaves – Belém – espaço exterior. Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


A cidade de Belém capital do Estado de Pará esta localizada na região norte do Brasil, o Estado de Pará tem uma área de 1.064.918 km2., engloba uma população na cidade de Belém de 1.392.031 de habitantes (Censo/IBGE: 2010), sua fundação data do inícios do século XVII, especificamente do ano de 1616, quando foi erigido o Forte de Presépio (ver F.2). Belém esta na Baía de Guajará, nas margens dos rios Guamá, Amazonas e Maguari. Sua historia relata na época das bonança na extração da borracha, onde deve seu impulso socioeconômico, nos finais do século XIX e inícios do século XX.


Devemos entender que na cidade de Belém esta banhada nas margens dos Rios supracitados, e sua maior característica são o “movimento de mercadorias” de forma fluvial, que fazem parte de sua historia urbana da cidade. E inclusive ate hoje sua maior fonte de mobilidade se faz desta forma, já que não existem outras vias que não sejam de forma fluvial ou aeroportuárias. Então podemos concluir que na cidade de Belém a sua importância da construção urbana e arquitetônica, se basa nas conquistas obtidas através de seus rios.


F.2 – Forte do Presépio (1616) – Belém Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


No espaço-tempo de sua historia a construção de Belém como tínhamos dito tem seus referentes baseados na sua própria origem traduzidos em “cultura urbana e arquitetônica”. Ramón Gutiérrez no seu livro Arquitectura Latinoamericana en el siglo XX de 1996 explica: ...os testemunhos do devier histórico da cultura, expressa os diversos modos de vida nos distintos momentos históricos, recreia o passado e o presente, e condiciona – si preservará – a paisagem habitável do futuro (Gutierrez 1996:110)


Penso que esta cita expressa bem o espírito, que é concordante com os pensamentos culturais da cidade de Belém, “são suportes dos testemunhos e das esperanças e dos sonhos das comunidades”, o resgate da memória arquitetônica e urbana nos entrega esse prazer, de preservar o próprio. O interessante no caso do edifício das Docas, que a memória foi preservada, que fazem parte da ”vida cultural da cidade”, mais sua função original de armazém ou lugar de guardado de mercancias que vinhas através de transporte fluvial, esta foi convertidas em complexo turístico de outras funções, como a de Museu Local (Exposições Itinerantes), cinema, bares, restaurantes, pequenas lojas gerais e de artesania, e áreas para simplesmente de contemplação, e aberto para todo o publico que deseja visitar este edifício.


F.3 – Estação das Docas (2000) – Arquitetos: R. Lima, P. Chaves – Belém – espaço interior. Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


Como nos sabemos as expressões na arquitetura e o urbanismo não são questões estáticas, mais bem tem um dinamismo que esta imbuída nestes pensamentos obtidos através ao longo da sua historia que foi se cultivando pela vivencia da própria ambiência urbana, que entregam estes referentes culturais, mais a aceitação o não delas, depende muito da “perseverança de sua cultura”. Entendemos que a arquitetura constitui um documento de sua historia, mais em termos concretos ... a arquitetura, é para que saiba ler, falara como ela foi concebida e realizada na sua origem, de como foi transformada na suas funções e seus usos através do tempo (Gutierrez 1996:110).


É evidente que leitura do edifício das Docas suas funções não são as mesmas das suas origens, mais de fato faz parte do conceito espacial da cidade, o convívio deste edifício mantém viva a memória da cidade, mais não só de ordem e origem arquitetônico mais bem extrapola sua capacidade de abrangência, cria na minha maneira de ver qualidade de “forma e espírito” das conquistas espaciais que são atribuições atemporais que faz parte do processo correto e sincero de um arquitetura que procura ser mais concordante com nas necessidades culturais do povo.


Muitos projetos têm logrado estas partituras de consonância basta lembrar: Museu de Arte Contemporâneo na cidade de León de Mansilla & Tuñon; Cidade da Cultura na cidade de Galícia de Peter Eisenman; Ampliação do Museu do Prado em Madri de Rafael Moneo; Pinacoteca de São Paulo de Paulo Mendes da Rocha, as obras citadas são referentes da memória arquitetônica, mais em nenhum momento quero fazer comparações da importância de seus edifícios, mais bem o objetivo é a busca das relações da sua espacialidade do edifício e de sua relação com a cidade ou região.


F.4 – Estação das Docas (2000) – Arquitetos: R. Lima, P. Chaves – Belém – tecnologia construtiva. Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


A readequação funcional do edifício da Estação das Docas foi inaugurada no ano de 2000, este edifício esta composto por três antigos armazéns (galpões), e tem uma área de 32.000 m2. A autoria do projeto de arquitetura é de Rosário Lima e de Paulo Chaves Fernandes. Preservando a memória e funções deste conjunto de armazéns podem definir que sua organização espacial e de forma lineal seqüência lineal dos espaços repetidos (Ching 2002:189), e seus impactos de suas formas geométricas de forma predominam retângulo unidos por uma espécie de tuneis de forma leve e imperceptíveis que fazem a ligação entre os edifícios (ver F.5) As formas podem estar separadas, mais ligadas entre si por um terceiro elemento que se lembra de uma geometria de suas formas originais,... conservando sua identidade das formas que podem compartir as partes de seus volumes que se entrelaçam (Ching 2002:72).


Como podemos apreciar a importância destas ligações só esta na função, já que edifício guarda um sistema de ar condicionado centralizado, que a minha maneire de ver a idéia foi pouco sustentável – o uso energético e exacerbado, a proposta de seus fechamentos nos seus espaços interiores só tem essa solução?. Mais devemos dizer que o fator climatológico desta região tem altas temperaturas quase em todas as épocas do ano.


F.5 – Estação das Docas (2000) – Arquitetos: R. Lima, P. Chaves – Belém – elemento de ligação. Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


E evidente que suas formas são ate certo ponto estáticas Mumford as define como: Em suas formas mais pesadas, estáticas e severas o classicismo é a arquitetura do período econômico chamado de imperialismo: é a “arquitetura da compensação... (Mumford, 2010), este claro de forma análoga das épocas quando forem construídos seus “edifícios de poder” como o Museu de Artes (hoje Museu de Arte Sacra e Gabinete do Prefeito da cidade de Belém), ou o antigo Palácio do Governador entre outros, que marcarem as épocas de bonança desta cidade.


Para Bruno Zevi a interpretação espacial está dividida em três grandes categorias: “Interpretações relativas ao conteúdo; Interpretações fisiopsicológicas; Interpretações formalistas” (Zevi 2009:175-176), sobre isso e devemos dizer que o referido edifício guarda em si, seus aspectos de suas interpretações relativas a seu “conteúdo” como o explica Zevi, talvez porque a busca das consonâncias do edifício das Docas leva essa conformação mais ampla de pensamento de imbuir nas essências da memória da sua espacialidade.


Gostaríamos terminar este ensaio e dizer, que a cidade contemporânea de Belém tem condições inspiradoras de suas origens como o caso de este edifício de apartamentos (ver Fig. F.6), que se assemelha nos seus aspectos formais de um “navio”, que de fato é concordante com a historia arquitetônica e urbana da cidade.


F.6 – Edifício de Apartamento Contemporâneo – Belém Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


Talvez neste texto possa despertar as novas considerações do repensar da memória de está u outras cidades, onde a arquitetura se faz presente como “identidade da sua cultura”, onde seu produto esta em pleno processo de construção – gerações passarão, mais quedara vivo seu grau de espontaneidade que não e gratuito, mais bem cria uma atemporalidade que esta atuante, sua mobilidade cultural tem esse valor agregado, que serve e servirá como exemplo, porque ao final de contas e conforme o explica Zevi que a historia da arquitetura basa-se nas próprias essências de sua espacialidade, e a nossa maneira de ver é concordante e correto de fazer uma arquitetura que tenha memória neste tipo de edifícios.


F.7 – Estação das Docas (2000) – Arquitetos: R. Lima, P. Chaves – Belém – espaço exterior. Fonte Fotográfica: Jorge Villavisencio (2011)


Esquecer do passado de seu patrimônio histórico e uma negação, e não busca qualidade de vida, mais bem gera regressão. A procura constante e incessante esta na memória da cultura e “preservar e cuidar” são princípios da sustentabilidade. São os suportes testemunhais dos sonhos e esperanças de muitas comunidades (Gutierrez 1996:110). Estes testemunhos podem ser tangíveis como o caso do edifício da Estação das Docas de Belém, mais também pode ser não tangível que é o lado “espiritual”, achou que na construção deste processo este imbuído as relações não só dos sujeitos-objetos (homem-edifício), mais bem do “espírito abrangente” das condições culturais da cidade de Belém.


Belém, 27 de Março de 2011.


Arq. Jorge Villavisencio.


Bibliografia


GUTIÉRREZ, Ramón (org.); Arquitectura Latinoamericana em el siglo XX, Ed. Epígrafe, Universidad Ricardo Palma (Lima, 1998), original: Editoriale Jaca Book S.p.A., Milão, 1996.


CHING, Francis; Arquitectura: forma, espacio y función, Editora Gustavo Gili, México, 2002.


ZEVI, Bruno; Saber ver a arquitetura, Editora Martins Fontes, São Paulo, 2009.


MUMFORD, Lewis; A Cidade na Historia, Editora Martins Fontes, São Paulo, 2008.


1 comentario:

  1. Jorge,
    Gostei do seu blog, achei bem interessante sua percepção daquele espaço. Cabe lembra que também faz parte a participação da Rosa Kliass na qualificação da identidade desse lugar através do projeto paisagístico.
    Abraços,
    Barbara Prado

    ResponderBorrar