domingo, 26 de febrero de 2012

Inclusão urbana, na visão de Paulo Ormindo de Azevedo

O arquiteto Paulo Ormindo Azevedo, nos apresenta as dificuldades do dia a dia das pessoas comuns que habitam nas suas cidades, penso que ele nos da um breve e valioso perfil dos excluídos, que são a grande maioria – o povo. Sem duvida este texto nos leva a uma reflexão, talvez para que as cidades tornem/sejam mais accessíveis, por conseguinte mais inclusivas, vejamos que tem a dizer.
Arq. Jorge Villavisencio.


Novo modelo de inclusão urbana
Paulo Ormindo de Azevedo


Um dos aspectos mais perversos da exclusão social é o monopólio do solo urbano pela especulação, o que faz que os menos favorecidos não tenham outra opção senão se equilibrarem em terrenos periclitantes e/ou de difícil acesso. É o caso das favelas em morros, encostas e alagados, comuns nas cidades brasileiras e latino-americanas. Até bem pouco, os moradores do Morro de Dona Marta no Rio tinham que subir diariamente 788 degraus para chegarem a seus barracos carregando crianças, compras e botijões.

Tal dificuldade de acesso e vácuo do Estado fez com que surgissem nesses territórios de exclusão comunidades dominadas por gangues da droga e do jogo que administram a justiça executando supostos acagüetes e pivetes, decretando o toque de recolher e fechando o comercio quando querem. Em troco do acobertamento de seus ilicitos mantinham, ou mantêm, clubes, creches e funerárias. Estas áreas são os territórios de apoio da guerrilha urbana em que vivemos.

Episódicas ações policiais e/ou do exercito se transformaram em midiáticas operações de guerra com blindados, helicópteros e tropa de elite para prender um determinado criminoso, matando mais inocentes que bandidos. Logo a sociedade se deu conta da brutalidade e inutilidade desses espetáculos televisivos.

Vem de Medelín e Bogotá na Colômbia, aonde a exclusão e violência chegaram a níveis inimagináveis, uma nova doutrina de como lidar com a questão elaborada por urbanistas e professores universitários. Fundamental foi a compreensão de que a acessibilidade é a chave para romper esse circulo vicioso. Com técnicos suíços eles criaram o primeiro sistema de transporte urbano teleférico, complementado por planos inclinados e escadas rolantes, evitando maiores impactos sobre encostas densamente ocupadas. Mas a inclusão dessas comunidades não se restringe à acessibilidade, senão em levar infraestrutura e equipamentos culturais, fazer a regularização fundiária e desmantelar o controle das gangues através de uma nova ordem social baseada na restauração da auto-estima dessas comunidades e policiamento preventivo.

Dentre os equipamentos instalados nessas áreas na Colômbia estão moderníssimas bibliotecas e complexos esportivos para ocupar os jovens o maior tempo possível. O resultado disto foi a queda em 80% da criminalidade em Bogotá e Medelín. Este mesmo sistema está sendo implantado no Rio e outras cidades brasileiras. No Brasil, uma tentativa de inclusão social de favelas já vinha sendo experimentada desde a década de 1980 no Rio, com os Centros Integrados de Educação Publica – CIEPs, imaginados por Darcy Ribeiro, reproduzindo a experiência de Anísio Teixeira aqui no Pau Miúdo. Darcy imaginou colocar escolas-classes encima dos morros e escolas-parques no seu sopé. Quem traduziu isto em termos arquitetônicos foi o nosso Lelé criando escolas tipo Playmobil, cujos componentes podiam ser levados no ombro por operários pelas labirínticas escadarias dos morros.

Mas as escolas-classes de Lelé não eram visíveis ao grande público e Brizola preferiu construir mais escolas-parque, de Niemeyer, desvirtuando a proposta de Darcy. Lelé levaria seu sistema para outras cidades. Aqui, com a mesma preocupação social, criou na administração Mario Kertész a Desau, onde desenvolveu outros equipamentos para as nossas favelas, como escadas drenantes, lixodutos e passarelas articuladoras de encostas com rampas de acesso para cadeirantes e carrinhos de ambulantes.

Ainda no Rio de Janeiro, o Arq. Paulo Conde, Secretário de Urbanismo e depois Prefeito realizou na mesma linha, na década de 90, um amplo programa conhecido como Favela-Bairro. Mas ele pecou por não contemplar adequadamente a questão da acessibilidade. Nisto o tripé colombiano de acessibilidade, cultura e auto-gestão cidadã se mostrou mais eficiente e se transformou em um novo paradigma de inclusão para as cidades do terceiro mundo. Aqui, elevadores e planos inclinados sucessores dos pioneiros guindastes dos séculos XVII e XVIII estão sendo desativados por não serem rentáveis.


viernes, 10 de febrero de 2012

Glusberg: idealizando um constructo.

Glusberg: idealizando um constructo.
Critica: Arq. Jorge Villavisencio



O arquiteto argentino Jorge Glusberg (1932-2012), publica no Brasil no ano de 1986 seu livro nomeado “para uma crítica da arquitetura”, como sabemos é da versão original idioma em espanhol com o mesmo nome. Na versão em português Armando Sercovich realiza o prólogo, alem dos desenhos de Clorindo Testa e Luis Benedit, a tradução ao português fica por Anita Regina Di Marco.

Livro de Glusberg (versão em português)
GLUSBERG, Jorge; para uma crítica da arquitetura, Projeto Editores Associados, São Paulo, 1986.


Sobre este livro trataremos alguns temas relacionados sobre a “semiótica”, como assunto central, mais também alguns outros assuntos relacionados com o pensamento contemporâneo.
Como sabemos no dia 2 de Fevereiro de 2012, morre este arquiteto preocupado pela condução de uma arquitetura, que procura algumas novas visões e percepções sobre o processo arquitetural. Talvez possa ser em mim que a crítica deste texto tenha influído o fato de não estar neste mundo terráqueo, mais sem duvida deixara muitos ensinamento e lembranças para a arquitetura e a vida dos arquitetos, em especial em America do Sul.


Entre o dinamismo de Jorge Glusberg, este em ser um conspícuo promotor da cultura em seu pais, inclusive fundador da Bienal de Arte, lembremos que umas das formas de levar cultura é através da arte, inclusive em seus aspectos de “vanguarda”, por isso que no momento contemporâneo onde se produz determinada situação relacionada com a “arte”, poucas vezes e entendida de forma correta, penso que e um utopismo que faz parte da essências espaciais, claro como o explica Zevi sobre a historia da arquitetura. Mais si vemos no seu lado mais profundo o vanguardismo tem servido e servira para pensar em “prospecção”, esse olhar para frente nos permite criar certo debate entre a sociedade, mais ainda com toda esta parafernália da comunicação digital nas redes sociais, blogs, etc. Está me faz lembrar na época do “Iluminismo” do século XVIII onde nos Salões especialmente na Francia, se criavam os debates sobre as diferentes tipologias das artes que se apresentavam no momento, sem duvida também era uma forma de criar certas criticas ou valorações dos aspectos que se apresentavam no momento, similar a o que é hoje, mais sem a mobilidade e velocidade que se produz hoje. Penso que Glusberg ao ser Diretor do Museu de Belas Artes na cidade de Buenos Aires, teve este fundamento criar debates para que população possa chegar mais de perto nas questões das artes em conseqüências das necessidades culturais, que na minha maneira de ver é o que alavanca o pensamento do povo.


E muito coerente quando Sercovich diz “o autor é sensível a um principio epistemológico subjacente em todo seu desenvolvimento teórico: não existe importação conceitual sem transformação dos modelos originais” (p.8)


Porque entendamos ao falar de questões epistêmicas, este nos leva aos pensamentos circunstâncias sociológica, psicológica, social, cultural, etc. Sem duvida como si fosse uma questão sem limites e atemporais como expressa Mario Bunge. Ao ter modelos originais, teríamos que pensar em quebra de paradigmas, que dessa forma nos imbui a novas percepções.
Nas questões da semiótica, que na realidade são os “signos” que nos levam a pensamentos com ideologias abstratas ou não, “estes desenvolvimentos semióticos re-situa e recompõe um espaço complementar do espaço arquitetônico: o da reflexão acerca do objeto e do lugar de sua teoria”. (p.9)


Glusberg na sua primeira hipótese (nos referimos a seu livro) diz: ao fato e condições de produção similares, aos produtos que tendem a assemelhar-se entre si. Esta afirmação – que, o sabemos, não é copernicano (refere na Revolução cientifica na era do Renascimento do século XVI) – implica em mudanças de perspectiva naquilo que ate agora foi considerado uma semiologia da arquitetura.


Glusberg (esquema) – 1986

a. As condições de produção do fato arquitetônico, ou as condições extra-semióticas;
b. Os efeitos concretos, ou seja, a matéria prima, de toda a reflexão sobre o arquitetônico, o construído, a base material, ou conjunto de constructos arquitetônicos;
c. Um elemento particular desses constructos: seu estilo;
d. Os efeitos sociais da pratica arquitetônica sobre o usuário, incluindo os próprios realizadores e operadores arquitetônicos;
e. As mudanças que, a partir do construído ocorram na sociedade global motivada pela influência que a arquitetura de um determinado período exerce sobre as institucoes da sociedade.


Vemos, em Glusberg uma preocupação pela sociedade, deixando mais claro com o “povo” que de maneira geral percebe-se que a arquitetura como “elemento/objeto de cultura” cria expectativas, inclusive dentro da nossa linguagem sobre a arquitetura ditas como ele propõe através de construtos, como exemplo, dizer de uma arquitetura “miesiana”, estão nos estamos referindo obviamente na arquitetura de Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), e como um de seus construtos seria ao ele dizer que “Deus esta nos detalhes”, então seria a síntese de todo um pensamento realizado pelo grande mestre da arquitetura moderna do que Mies van der Rohe no fazer da na sua vida. Mais isso é um constructo. Mais se o pensamento iria alem de esse construto poderíamos referimos a uma “arquitetura racionalista” que obviamente vá alem.


Finalizando Jorge Glusberg foi um batalhador em querer entender os processos da arquitetura e de forma ampla, em fim de todo o processo da projeção arquitetural, como nos sabemos e tão complexa que em alguns casos é necessário criar “constructos”, penso que esse o grande aporte do Glusberg em querer ver como meta pensamentos, através do estúdio da semiótica.

Goiânia, 10 de Fevereiro de 2012.
Arq. Jorge Villavisencio




Bibliografia
GLUSBERG,
Jorge; para uma crítica da arquitetura, Projeto Editores Associados, São Paulo, 1986.
BUNGE, Mario; Epistemologia, Siglo veintiuno editora, Barcelona, 2004.
ZEVI, Bruno; Saber ver arquitetura, Martins Fontes Editora, São Paulo, 2009.